Mães têm opção de lazer, e filhos têm contato com outros bebês durante as sessões
Choro de bebê no cinema geralmente só é compreendido em dois casos – se você é mãe ou se você é mãe do bebê que está chorando. Mas nas sessões do CineMaterna os barulhinhos emitidos pelos bebês são tolerados e não incomodam ninguém, já que o espaço reúne pessoas que atravessam o mesmo momento da vida: a maternidade.
Logo na entrada da sala, um congestionamento de carrinho de bebês estacionados anuncia que algo diferente acontece porta adentro. O projeto tem sessões para mães de bebês de 0 a 18 meses e a sala ganha características especiais para receber um público tão sensível. O ar-condicionado, que de um modo geral não tem piedade dos visitantes, é mais ameno. A comum escuridão dá vez a uma meia luz aconchegante, o que permite que as mães circulem pela sala quando os bebês se cansam da mesma posição. Os tons escuros das poltronas ganham o colorido de chocalhos, brinquedos e chupetas. Nos suportes para refrigerante, que ficam ao lado da poltrona, sai a Coca-Cola e entra a mamadeira.
É uma tarde de quinta-feira e a sala do Cinemark do Shopping Villa Lobos, na capital paulista, está parcialmente cheia. Os pais também marcam presença. Não chegam a ser 50% da audiência, mas estão lá, ajudando a balançar a criançada pelos corredores e escadas quando começam a ficar impacientes. No telão, Homem de Ferro 3 legendado. Os adultos, claro entendem tudo e se divertem na medida do possível, entre uma cena e uma troca de fralda. As crianças, por sua vez, parecem não entender nada, mas se divertem como de costume.
Para o advogado Paulo Porto Fernandes e a mulher, a administradora Tereza Veiga Porto Fernandes, a escolha de um filme de ação não é um problema para o filho, Antonio, que, diferente de algumas crianças, não cochilou. “Ele ficou mais interessado em ver, brincar e comer pipoca!”, contou a mãe. Com apenas 1 ano e 1 mês, já tem opinião formada quando o assunto é TV. “Ele não gosta de filminho e desenho de criança. Motoqueiro Fantasma ele assistiu inteiro. O que ele gosta é de filme de ação”.
Os maiorzinhos brincam entre si e às vezes ficam presos à tela, até que algo mais interessante roube a atenção. Os de colo se dividem entre os dorminhocos e os mais agitados, que brincam com a mãe, arrancam o próprio sapato ou soltam gritinhos típicos dos bebês. Em alguns momentos, um choro baixinho chama a atenção de um lado da sala. Em poucos segundos, ele se espalha como um vírus e logo vários bebês estão chorando em sinfonia. Mas na mesma intensidade que chega, vai embora – parece que a vontade tem mais a ver com um inconsciente coletivo do que com algum motivo real.
A poucos metros do telão, ficam os trocadores e também um tapete de atividades para as crianças que já engatinham. A estrutura própria para os bebês é o que motiva as mães a conhecerem o projeto, além da própria vontade de ir ao cinema com o conforto de não incomodar ninguém. É o caso de Vanessa de Souza Couto, mãe de Heitor, de 1 ano 4 meses. Ela acredita que a iniciativa é uma oportunidade de inserir o filho em programas culturais. “Tudo o que está ligado à cultura tem que incentivar desde agora. Ele ainda fica entretido com outros bebês, fica mais ligado no ambiente”, observa.
O projeto
Criado em 2008 pela administradora de empresas Irene Nagashima e a engenheira Taís Viana, o CineMaterna nasceu com o objetivo de promover a troca de experiências entre as mães e fortalecer o vínculo com os bebês.
Sem fins lucrativos, já está presente em 25 cidades do país, em 14 estados. São 51 salas de cinema e 51 sessões mensais, além de 160 mães colaboradoras. A organização calcula que, desde o seu início, já passaram pelo CineMaterna mais de 65 mil adultos e 35 mil bebês.
A escolha do filme é de responsabilidade das próprias mães. Christian Petermann, crítico de cinema, auxilia na seleção dos filmes que vão para uma enquete no site do projeto. Esta seleção de filmes exclui o excesso de violência, segundo a organização. De acordo com o site do projeto, "os filmes exibidos em geral são de temática adulta – portanto, entretenimento para mães e pais, mas em ambiente especialmente preparado para os bebês".
Para as fundadoras, o mais importante é que a mãe tem a possibilidade de relaxar e se divertir. “Uma mãe, ao trocar experiências com outras mães, consegue perceber que seus problemas são similares aos das outras. Daí que ela percebe que o melhor é curtir, tentar não se apavorar por pouco e experimentar novas formas de exercer a maternidade”, afirmam.
A administradora Alessandra Haysittle está aproveitando a licença-maternidade para curtir a filha Marina, de apenas três meses. Ela conta que o marido conheceu o CineMaterna por “acidente”. “Um dia ele chegou em casa me falando que entrou em uma sessão sem saber, e tinha várias mães com bebês. Achamos o máximo ter essa opção de lazer”. Para ela, ir ao cinema é uma forma de se distrair e ficar ainda mais perto da criança. “Ela gosta do aconchego do colo, de ficar mamando durante a sessão, então é um tempo que ela está ali grudadinha junto comigo, está se sentindo protegida”.
Marina dormiu praticamente durante toda a sessão, mas, segundo Alessandra, ela já demonstra atenção à tela da TV e do cinema. “Não vejo a hora de poder levar nos filmes que ela realmente vai poder começar a entender e participar”. Sobre o barulho e agitação das cenas de ação comuns em um filme como Homem de Ferro, ela não vê motivos para se preocupar. “Às vezes acho que é até bom ela estar com barulho próximo porque isso faz parte do nosso dia a dia. Mas acho que a partir do momento que ela começar a entender tem algumas cenas que a gente tem que evitar”.
As sessões do CineMaterna são abertas ao público em geral. O valor do ingresso é o de uma sessão normal, porém, para os lançamentos, são distribuídos até 50 ingressos gratuitos para as primeiras mães que chegarem. Para participar, basta consultar o site e ir ao cinema no dia e hora da sessão.
Fonte: Terra
Fonte: